(Do livro: Cartas da Prisão (1969 – 1973) – Frei Beto. Editora Agir. Página 60)
“Talvez a distância que exista entre palavras e atos seja a principal causa da nossa ruptura interior. Aceitamos o jogo dos verbos e damos lances de acordo com o adversário. Falamos o que ele quer ouvir e não o que precisa ser dito. A ponto de cairmos em total contradição., porque não somos capazes de uma só palavra. Aceitamos a mentira como etiqueta de convivência e conivência. Nesse jogo, os únicos derrotados pela própria ilusão somos nós mesmos. Aos poucos nos perdemos no labirinto que armamos com a melhor das intenções.
Confundimos frequentemente a fé com amor. Teoria e práxis. Achamos que atingieremos nossos objetivos apenas porque cremoms. Caímos no círculo dos milagres. Na fase onde a evocação constitui nossa única ação. Aguardamos os deuses solucionarem nossos problemas. Olhamos para os céus como se quiséssemos forçá-los descer a terra. Entre o que cremos e fazemos. O querer e o decidir. O que se propõe e o que se arrisca.
O único equilíbrio possível, a única maneira de encontrar a paz, a unidade, é no amor. No sair de si. Na ação. O amor é fundamentalmente práxis, transformação, crescimento. Sintonia entre desejo e decisão. Inútil esperar que o milagre venha substituir a nossa incapacidade de ação. A fé só é real quando traduzida em obras. essas falam por si, dispensam palavras. Fazem nos passar de espectadores a atores. Exigem risco, coragem diante do imprevisível, humildade perante a vida.
A paz interior e exterior, não resulta do mero equilíbrio de pólos opostos. Só é autêntica quando fruto da justiça. Dai porque a paz se constroí na luta implacável consigo mesmo e com os outros; com tudo que de alguma forma, trai, deturpa ou encobre a justiça.”
Amei este texto. Li e reli muitas vezes!